O agente secreto (2025)

Laura Thereza Mique

O filme que irá representar o brasil na 98 a edição do Oscar é estrelado por Wagner Moura e dirigido por Kleber Mendonça Filho (diga-se de passagem este é o seu terceiro filme a nos representar no Oscar).

No meu ponto de vista, o filme contém quatro narrativas: a primeira, de Armando, que se passa por Marcelo -interpretado por Wagner Moura-, um professor universitário que retorna a sua cidade natal após anos passados longe e começa a trabalhar em um Instituto que cuidados registros da população em busca de um documento que comprove a existência de sua mãe, tem um filho órfão de mãe e está sendo perseguido por um importante político da região Sudeste; a segunda, é a própria ditadura militar, mais em específico o período do Governo de Geisel, em 1977, em que o filme se ambienta; a terceira, a de uma perna humana encontrada dentro de um tubarão da orla da praia e a quarta, a de uma funcionária de uma universidade
privada em São Paulo que escuta as fitas gravadas por Marcelo.

O Armando é filho da relação de um menino de 17 anos -filho da elite- e de uma empregada que trabalhou na sua casa -de 14 anos- em condições análogas a escravidão. Foi criado em berço de ouro, pelo lado rico de sua família. Estudou e tornou-se chefe de departamento da Universidade Federal de Pernambuco. Em dado período no início dos anos 1970 recebe uma visita de uma figura importante da Eletrobrás e tem sua pesquisa cortada após desentender-se com este homem- Ghirotti-. Começa a ser perseguido por dois dissidentes, contrastados por esse homem, sendo jurado de morte. No final do filme, descobrimos que ele foi morto no dia em que planejava fugir do país com seu filho.

Um ponto muito relevante passado pelo filme é a importância da pesquisa independente de forma a configurar soberania para o Brasil e para as regiões afastadas do Sudeste, uma vez que o Ghirotti, ao acabar com o projeto de Armando, salientou a desimportância atribuída às pesquisas da universidade pernambucana e o apoio a projetos canadenses que visavam sobre a mesma matéria.

Em vários momentos, há uma quebra de narrativa quando a funcionária conversa com a sua colega de trabalho sobre as fitas, gravadas por Elza, uma personagem misteriosa sobre a qual não se sabe os motivos que a levam a ajudar Marcelo e outros dissidentes a fugir da ditadura. Sua função, no presente, era transcrevê-las, contudo é obrigada a parar devido a umaproibição externa. No final, encontra o filho de Armando em busca de informações que possaminquietá-la sobre o caso.

Em relação a perna encontrada no tubarão, vira uma lenda urbana da cidade, tendo direito a histórias no jornal, tornando-se uma figura mítica tal qual vampiros e lobisomens.

Gostaria que os outros personagens fugidps da ditadura tivessem suas histórias melhor destrinchadas, mas entendo a escolha do diretor por ocultar suas vivências. Tal como era comum em uma época de repressão, quando menos as pessoas soubessem sobre quem era ou deixava de ser uma pessoa poderia salvar sua vida.

Acredito ser um excelente filme, engraçado e perspicaz. Realmente uma pérola atual que mescla neo-noir, suspense e comédia com a magnitude que somente um filme nacional sabe fazer. Trata de assuntos importantes, muitas vezes apagados pela grande mídia, como a falta de financiamento universitário, em especial nas regiões mais afastadas do centro e a falta de conhecimento que ainda existe sobre as vítimas da ditadura, as quais mesmo depois de décadas ainda não se sabe o paradeiro.

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