LUMIÉRE

Por Lucius Reyneard

Regressar à minha escuridão.
Sem vela daquela que me rasga a noite
com o fulgor de um farol
num mar sem bússola.
Sem cais, sem porto,
só naufrágio

Seguro ao mastro
não pelo mundo,
por Lumiere.

Lumiere…
acende minha solidão mais funda.
Traz o vazio que grita,
Veste-me do silêncio que me embala.
Eu poderia taxar outro verbo,
mas nada diz como cala
essa dor que se deslava
no obliterador da declinação.
Essa centelha…
que me salva.

Vem.

Com teu andar
que flutua entre o sagrado e o etéreo,
inclinada à inocência,
como o sopro primeiro das auroras.
Corpo de inércia do meu gozo
Destaca

Lumiere…
brilha entre as estrelas tristes.
Se é que…
são mesmo estrelas,
e não só fantasmas do que quiseram ser luz.

Como teus raios
tão serenos
afogam todas as pretensões de beleza? Como o céu não se curva ao teu fulgor?

Até os deuses…
que veem de cima…
param.

E dizem:

“Eis a estrela escolhida.”

Subo à colina.
Olho o firmamento.

Nada.

Nenhuma estrela.

Apenas…
teu clarão.

Lá longe
um meteorito.
Vem na rota do meu peito.

Deveria me consumir.

Mas tua luz…
entrelaça o espaço e o tempo.
Deforma a flecha do destino.
E me protege…
de mim mesmo.

Ah, Lumiere…

Como eu amo teu beijo.
Tua luz.
Teus olhos de cristais
onde o mundo repousa em silêncio.

Reflexo da m’alma

Como eu amo teu toque.
Teu abraço que soterra o escuro.

Afinal…

O que é Lumiere?

Um fragmento de eternidade
para aquele que nasceu do abismo…
mas foi condenado a portar a luz.

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