SOBRE A SANFRAN E VAZIOS PLÚMBEOS

Giulia Jardim Martinovic

Lembro como se fosse hoje. Foi o meu primeiro ano na Faculdade de Direito de São Paulo. A sua pele pálida. Sutis sardas. Logo entraria nas profundezas da floresta mais que obscura da minha então alma gêmea.

Gostaria de poder descrever bem os cheiros e novas dimensões as quais conheci ao passo que me aproximava de sua maciez inefável.

A tradicional arquitetura da gloriosa cinzenta nos circundava, quase como o musgo cresce nos túmulos. A mistura dos deleites e dores experimentaras por quem estuda aqui, prefiro não descrever em detalhes muito óbvios. Afinal, apenas existindo neste espaço para saber. Faz sentido? Imagine o cheiro e nuances do sangue, da madeira, da chuva e do seu bolo favorito, tudo isso misturado à cor plúmbea celeste. Mais acurado do que tantas almas pueris fantasiam. Acredite.

Ah, mas é a última vez — por agora — e ainda não vivo o presente. Por que será isso? O momento foi há aproximadamente uma hora — mas três anos se passaram — e já é outubro. Respiro fundo.

É assim que o tempo passa agora. Não se preocupe leitor, caso seja um futuro franciscano. Eu lhe garanto que nunca mais será tão jovem e cheio de sentimentos quanto agora. Garanto que o vazio chega e geralmente não tarda.

Hoje é dia 12 e olho através da janela do meu apartamento após realizar um questionário de Direito Penal on-line. Olho para a frente e a neblina se esgueira pelo céu. Que bom que o frio ainda impera em São Paulo, de modo que posso fingir que moro em algum lugar melancólico como eu, a Escócia talvez.

Entretanto, gostaria que você entendesse do conforto do seu quarto antes de almejar tal inferno rubro. Pois cada um tem seu tempo para voar.

Talvez — nesse meio de temporada — este seja o meu tempo de voar. E estou pronta. Ansiosa. Mas desejo a você que não se distraia (e se possível ignore). Finque os pés no chão, ignorando as vozes que chamam lá do alto.

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